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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um conto de Balé: Você ja fez seu alongamento hoje?

Um conto de Balé: Você ja fez seu alongamento hoje?

Apenas Balé.

  
         Triste não é fazer uma aula ruim, não fazer um ensaio bom, errar na apresentação. Triste é estender a malha ou o collant no varal para secar todas as gotas de suor de anos de dedicação, guardar a sapatilha junto com os sapatos que ficaram fora de moda e você não usa mais, e ir esquecendo aos poucos o som do piano...
Falam que sonhar é de graça, mas na verdade custa caro, ainda mais no país em que... vivemos onde dança é vista como hobby, e tudo que envolve a mesma, sapatilhas, collant e afins são de custo alto. E muitos que não conseguem pagar acabam pagando mais caro ainda por não continuarem fazendo o que amam.
E como todos os pássaros quebram as asas param de voar, bailarino quando quebra os pés ou ocorre algum acidente similar, também param de voar.
Mas alma de bailarino é grande demais para ficar presa em um corpo, corpo de bailarino é inquieto demais para ficar em cima de uma cama. O problema é que a dor do machucado nunca vai ser maior que a dor de não ouvir mais os aplausos, a música preferida de todos os artistas, pois é cantada por diversas mãos, e nestas há uma veia ligada ao coração, transmitido toda emoção sentida.
É há muito talento parado pelas esquinas, em clínicas, escritórios. Que para mim, bailarino, só deveria parar para fazer balancé.
E o relógio não conta apenas até oito como todos estão acostumado, ele é até rápido demais, às vezes não dando espaço para arrependimento.
Nunca deixem que seus olhos, os quais foram feitos para refletir os holofotes e o brilho dos tutus, apagarem. Só quando os holofotes do palco apagarem e as cortinas fecharem, mas não quando você fechar a sua cortina e acabar com o seu espetáculo chamado vida, porque ele não tem mais de uma temporada.
— Lucas Splint