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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Aulas de balé para brilhar com leveza na Avenida. Ontem ;)

No carnaval, vão dançar balé o.o

RIO - Sapatilhas nos pés, leveza de movimentos, giros e pas-de-deux perfeitos. E no centro deste cenário, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Tijuca, Marquinhos e Giovanna. Há sete anos, os dois - crias das mais profundas raízes do samba de Mangueira - montam a coreografia que levam à Sapucaí com o auxílio da bailarina clássica Beth Tinoco Bejani. E após consecutivas notas 10, acabaram se tornando precursores de uma tendência dos carnavais atuais.

Tradicionalistas estranharam a mistura de estilos

Hoje, eles afirmam que exceções são os casais que não têm coreógrafos vindos da dança clássica ou do jazz. Mas lembram bem dos tempos, quando ainda defendiam o pavilhão da verde e rosa, que enfrentavam estranhamento dos mais tradicionais ao começarem a ensaiar sob a batuta de Beth.

- Eu mesmo resisti. Mas logo percebi que a essência de nossa dança não seria modificada. Lapidamos o bailado que já sabíamos, muito intuitivamente. Mas ganhamos em condicionamento físico, consciência corporal. Lembro da minha primeira aula de balé. Batia no peito com tamanha força que parecia um 'brucutu'. Aprendi que posso manter o gestual, mas com muito mais leveza. E ganhei mais gentileza ao cortejar minha porta-bandeira - diz Marquinhos, filho do ex-mestre-sala da Mangueira Lilico.

Coreógrafa do casal, Beth - esposa de Helio Bejani, diretor do balé do Teatro Municipal do Rio e coreógrafo da comissão de frente do Salgueiro - conta que o bailarino Carlinhos de Jesus a apresentou a Marquinhos e Giovanna. Desde então, sua principal função tem sido trabalhar detalhes como a postura e a expressão do casal.

- Em nenhum momento se percebe uma coreografia no bailado deles. Tem toda a base do balé, com a união do clássico e do popular. Mas não é balé, é a essência do mestre-sala e da porta-bandeira - diz Beth, afirmando, no entanto, ter descoberto no casal, que dança junto desde 1995, dois grandes bailarinos, também para o clássico.

Talento que, no caso de Marquinhos, já o levou até ao palco do Teatro Municipal do Rio, no espetáculo "Electra", encenado por integrantes da Mangueira. Experiência lhe deu segurança para, hoje, ao bailar com Giovanna no Balcão Nobre do teatro centenário, a convite do GLOBO, exibir a mesma desenvoltura de um bailarino profissional.

Embora a influência da dança clássica seja difundida entre os casais de mestre-sala e porta-bandeira, não são todos que a veem com bons olhos. Em 1997, a polêmica já havia se instaurado, quando Lucinha Nobre, hoje na Portela, na época na Mocidade, surpreendeu a Sapucaí ao desfilar vestida de bailarina.

Atualmente, ela ocupa, na azul e branca, o lugar que já foi de uma das maiores portas-bandeiras da história, dona Dodô da Portela, que ainda prefere o bailado sem os traços eruditos. Aos 90 anos, Dodô afirma que nunca lançaria mão da ajuda de bailarinos clássicos em sua dança. Mas diz entender que, com as modificações do carnaval de agora, muitos casais recorram a esse auxílio.

- Todos querem a nota dez. E no júri de hoje, quase todos os jurados vêm da dança clássica. Talvez esses jurados não entendessem a minha dança. No meu tempo era bem diferente. Bailarino era uma coisa; mestre-sala e porta-bandeira, outra. Agora misturou tudo, na escola de samba como um todo - diz Dodô, que desfilou pela primeira vez com o pavilhão portelense em 1934.

Outra que não aderiu ao balé foi Selminha Sorriso, da Beija-Flor de Nilópolis, uma das mais consagradas porta-bandeiras da avenida, com seis prêmios Estandarte de Ouro. Apesar disso, garante ela, não tem nada contra a presença dos bailarinos clássicos na preparação dos casais para a avenida.

- Claudinho (parceiro de Selminha na avenida) e eu vamos limpando a coreografia, tirando excessos dos movimentos, por conta própria, nos ensaios. Mas não tenho crítica alguma a quem faz isso com a ajuda de um bailarino. E não acredito que isso possa descaracterizar o bailado. Para crescer, melhorar, tudo é válido.

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