.

.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Balé treina disciplina, dando força e elegância muscular. Ontem

Balé treina disciplina, dando força e elegância muscularQuem gosta de mexer o corpo está sempre atrás de uma novidade, mas agora as velhas sapatilhas é que são fashion e o movimento do momento é o do velho balé.

Sim, machuca, sim, maltrata. Mas bolhas e calos à parte, está bombando entre menininhas e mulheres feitas, porque também é belo, bom para o espírito e o físico. Academias inventam modalidades que usam fundamentos da dança clássica e surgem mais aulas de balé para adultos não profissionais.

"A procura aumentou muito. Abri novas turmas de balé adulto tanto para quem já praticou e quer voltar quanto para quem nunca fez, mas enjoou dos exercícios repetitivos da academia e busca algo diferente", diz Sabrina Helena Martins, dona da escola de balé Carla Perotti.

Se faltava alguma coisa para o balé sacudir a poeira do tutu e dar a pirueta por cima, agora já não falta nada: é tema do favorito ao Oscar, e tem como "embaixadora" a atriz Natalie Portman, arrasando de "cisne" na tela.

A professora Ana Curcelli, autora do blog Ballet Adulto, conta que vem recebendo cerca de dez e-mails por dia de candidatas a alunas, mulheres de 19 a 60 anos. Para atender a demanda, Ana está abrindo estúdio em março.

SAUDADE DA BARRA

A Bio Ritmo notou antes o "revival" e lançou a aula Xtend, que trabalha posturas do balé com a exigência muscular e respiratória do pilates. A procura só cresce: por vezes, é difícil acomodar todas as alunas na barra, onde a maior parte da aula é feita.

A barra ajudou a popularizar a Xtend, por resgatar boas lembranças de quem praticou balé na infância e matar a vontade de quem sempre quis e nunca fez, acredita Saturno de Souza, diretor-técnico da academia. "Também dá tônus sem causar hipertrofia", diz.

O balé dá força, resistência, flexibilidade, desenvolve coordenação, melhora o sono. Também, óbvio, melhora a postura, que é trabalhada com o alinhamento do corpo.

Mas não é mero exercício. Exige memória, expressão. Os iniciantes começam com os mesmos passos dos intermediários e dos profissionais. O que muda, quando degraus técnicos são avançados, é o ritmo e a complexidade das combinações.

O balé tradicional e profissional é bem rígido, com padrões de magreza e exigências técnicas de perfeição.

"Como no filme Cisne Negro, tem competição, não pode comer muito, tem coreógrafo que não gosta de você e não te dá papéis de destaque", diz Sabrina Helena Martins, da Carla Perotti.

Mas, nas aulas para amadores, as diferenças de biótipo são aceitas, bailarina não precisa ser uma folha.

Para Marika Gidali, 73, fundadora do Ballet Stagium, qualquer um pode fazer balé, independentemente do tipo físico. "Aqui, adaptamos os movimentos para o corpo brasileiro, uma mulher que tem peito e bunda", diz.

Embora as coreografias sejam contemporâneas, no Stagium o ensinamento é todo em cima do balé clássico, uma bela base de educação física e disciplina. As aulas incluem musculação sem peso, para trabalhar músculos exatos, das virilhas às costas.

No centro, as sequências de saltos fazem a pessoa segurar o corpo de forma certa e fortalecem as pernas, deixando-as torneadas. E, por ser exercício aeróbico, ajuda a queimar calorias.

MASSACRE

Balé emagrece, mas machuca. Até quem já dançou na infância e está voltando deve treinar com calma, para relembrar a musculatura dos exercícios e evitar lesões.

Há um risco grande de lesões por esforço repetitivo e sobrecarga nas articulações.

Entorses também são comuns, ainda mais na rotina da bailarina profissional. São horas na ponta, saltando e girando, cinco dedos comprimidos num espaço de 3 cm.

No início, surgem bolhas, que viram calos. A unha cai e nunca nasce como antes. "Bailarina vai à praia e enterra o pé na areia. Não usa sandália", diz Sabrina Helena.

Mesmo a postura reta e invejável traz problemas. O famigerado encaixe do bumbum para dentro tende a alongar a curvatura da lombar, fortalecendo mais a musculatura posterior que a da barriga, o que gera desequilíbrio. No futuro, pode virar hérnia de disco ou lesar outras partes do corpo.

Para Tatiana Negrini, 29, que faz pilates e academia, a vantagem do balé amador é que não há esse massacre. Dá para se aprimorar sem tanta rigidez. Ela faz duas aulas por semana. "Estava atrás de algo que me acalmasse, e o balé me desliga do mundo."

RATINHA

Escolas de balé também estão recebendo mais menininhas, quem sabe por causa da "Angelina Ballerina", desenho animado estrelado por uma rata que sonha em ser estrela da dança.

Lúcia, 2, filha e musa de Renato Kaufman, autor do blog e do livro "Diário de Um Grávido" (Mescla), aprendeu a dançar vendo Angelina. "Ela segura na janela, levanta a perna para trás e fala balé! balé!", diz o pai coruja.

Angelina Ballerina é meio controversa na internet. Um grupo de mães seguidoras do blog de Kaufman não topa muito o programa, acusando a personagem de ser
egocêntrica e perfeccionista.

A mãe de Lúcia, Ana, que fez balé por 20 anos, sai em defesa da rata dizendo que o desenho apresenta técnicas corretas do balé. Angelina deixa um pé no apoio e ergue o outro até quase 90 graus: é certinho o passo "attitude".

Folha Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário